Os meus ouvidos estão de orelhas em pé pra ouvir as palavras que não saem de tua boca mas gritam pelos olhos, minha heróica trajetória distorcida por coisas que fantasiei me fazem fraco, me fazem forte a cada fracasso. Meus ouvidos não sentem o teor das palavras que por eles são ouvidas, nada mudaria se eu tivesse nascido mudo, nada também mudaria se eu não estivesse neste mundo, nada no mundo seria como vejo mesmo que nada eu pudesse ver, peso morto ou morto pesado a se carregar? Até meus beijos mais ressentes parecem os primeiros de quando adolescente, meus beijos hoje sentem, os de antes eram apenas desejos, curiosidades. Pois meus ouvidos ainda escutam olhares, escutam teu silêncio e só você não vê que já me disse tudo, não te escondas atrás de um sorriso falso e facilmente descoberto. Os meus beijos mais antigos continuam ressentes, continuam molhados, mas neles me faltam os prazeres dos dias de hoje, vivo hoje, ontem não mais, amanhã talvez, beijos de hoje ressentes são os que já são pra sempre.
(***)
Se hoje não houvesse amanhã
Ontem eu já nem estaria aqui,
Não queira meus beijos de ontem,
Não os guarde pra amanhã.
Meus olhos que fingem dormir
Não querem perder você de vista
Não querem te iludir
Só querem estar aqui.
Teu sorriso mal humorado
Teus olhos ainda fechados
Tua voz rouca
Você acordando ao meu lado.
Tão simples fazer o difícil
Tão difícil manter o fácil
Tão natural Por tudo por água abaixo.
Tão ontem o que falei hoje,
Tão longe de mim querer amanhã
Tão longe de mim algo exigir
Prefiro viver o hoje, agora, aqui.
José Mabson 28/02/2015