Desacordes

Acordei, com um acorde
Mau tocado, bem cantado
Encantado com um som acabado
Sem sintonia sintonizado.
Mergulhei lá no fundo profundo
Procurando fugir do mundo imundo, dos acordes sofridos
Sem cifras, sem rimas ouvidas.
Procurei no escuro algo claro
Pra entender sua tristeza
Pra enxergar tua beleza
Só encontrei gemidos, sofridos.
Do meu ombro a ti fiz divã
Na espera de te ver bem mais sã
Sem maçã a iludir o covarde
Que por dentro vaga vazio.
Encontrei na luz que há no escuro
O caminho pra voltar sem ir
Pra ficar depois de sair, ali
Encontrei bem mais de mim.
Fantasiei um real tão abstrato
Que de lama fiz retratos
Todos sujos e lustrados, ilustrados
De uma forma copiada, única.

Acordei sem ouvir os ruins acordes
Dessa canção tão bem mau tocada
Que nem sei quando acaba
Mas só vive a começa, acabada.

Desisti de tudo fácil conseguir
Sem prazer não quero ir
Onde eu for já penso em voltar
Pra aprender a desistir de ir.

Volto os acordes a ouvir acordado
Dormindo ouço gritos
Do corpo calado ao meu lado
Que em mim cola mas não fala.

Vem sentir o que não dou a mim
Vem ouvir o que não quero falar
Encosta o queixo em meu peito
Olha e ouve meus olhos chorarem.

Desce a água que lavam os olhos
Mas não limpam o embaço
Quer por dentro já tá podre
Por fora é só charme, puro alarde.

Desce o mundo passageiro
Sem bilhete, clandestino
Que nem faz questão do destino
Cada parada uma história, fim.

José Mabson
26/08/2015